desafios geológicos e geotécnicos na expansão do metro do porto [PAULA CARMINÉ]
02 Março, 2023
02 Março, 2023
O desenvolvimento de obras de engenharia civil conduz à importância e necessidade da caracterização geológico-geotécnica adequada aos terrenos afetados pela construção de tais obras, de forma a garantir, com segurança, o seu comportamento em resultado das respetivas solicitações.
A importância do Porto como a segunda maior cidade do país, local de intensa atividade, tem dado origem ao crescimento da cidade e consequente aproveitamento sistemático e rápido do espaço natural. Desta forte expansão resulta, por um lado, a construção de obras de engenharia mais complexas e, por outro, o uso de terrenos com características menos favoráveis à construção. Tais razões patenteiam a relevância e obrigatoriedade de desenvolver um estudo geológico e geotécnico dos terrenos envolvidos, sendo o seu pormenor em função do tipo e grandeza da obra, assim como da natureza das formações geológicas de que depende a obra.
É certo que a cidade do Porto foi crescendo desordenadamente, como na maioria das cidades antigas, tornando-se, por isso, difícil o modo de circular na cidade e mesmo de a ligar aos principais eixos viários. Neste contexto, impõe-se a construção de obras subterrâneas, das quais algumas já nos são familiares, como é o caso dos túneis rodoviários: Túnel de Faria Guimarães, Túnel de ligação entre a Praça das Flores e a Avenida Fernão Magalhães e Túnel de Ceuta, e os túneis da rede de Metro entre Campanhã e Trindade e entre S. Bento e Salgueiros, bem como as estações de Metro, umas construídas a partir da superfície e outras em profundidade.
A solução possível para melhorar as condições de circulação da cidade, quer daqueles que vivem e/ou trabalham na cidade, quer daqueles que a visitam, passa por criar alternativas às vias existentes, que no início e final do dia se encontram saturadas, nomeadamente melhorando e reforçando a rede de transportes coletivos, com o contributo igualmente importante ao nível da redução da emissão de CO2 para a atmosfera.
A expansão da Rede de Metro assume cada vez uma maior relevância, à qual está associada a construção de obras complexas, como é o caso de obras subterrâneas, que requer medidas especiais, em áreas de intensa ocupação de superfície, designadamente em zonas históricas e com património classificado.
O estudo das condições geológico-geotécnicas do maciço em que as obras subterrâneas se inserem, qualquer que seja a sua natureza, é fator prioritário. É igualmente importante o levantamento dos inúmeros constrangimentos presentes nestes meios, de que são exemplo fundações indiretas de edifícios antigos, existência de estruturas subterrâneas, presença de linhas de água subterrânea canalizadas, ocorrência de minas de água e todo um conjunto de infraestruturas implantadas no subsolo (de maior importância em túneis com poucos metros de recobrimento).
Tendo em consideração que a geotecnia, técnica-ciência relativamente recente – e cuja a história contada variadas vezes não interessa repeti-la aqui – se desenvolveu a partir dos anos 30 como solução de remedeio (inicialmente, quase só post-mortem) face a estrondosos insucessos verificados na instabilidade de grandes obras públicas, o seu crescimento ocorreu face à constante necessidade de tomar resoluções eficazes, sobrando-lhe pouco tempo para refletir e absorver métodos científicos na tentativa de encontrar novas técnicas que lhe confiram uma desejada capacidade previsional.
No estado atual da geotecnia, o corpus de dados recolhidos in situ e em laboratório, constitui um mosaico sincrético, do qual apenas a sensibilidade e experiência do geólogo de engenharia e geotécnico permitem extrair uma visão verdadeiramente sintética do problema do comportamento do maciço face às solicitações transmitidas pela obra.
Temos em mãos a empreitada da Linha Circular do Metro do Porto, uma obra complexa que compreende obras subterrâneas (túneis, poços e estações enterradas), numa extensão de aproximadamente 4km, num meio urbano e histórico, em grande parte património mundial da UNESCO. Esta empreitada requer uma atenção especial em termos de avaliação das condições geológico-geotécnicas dos terrenos a escavar e do meio em que se insere, cujo papel do geólogo de engenharia e geotécnico, é fundamental, não só para avaliar as características do maciço encontrado, por um lado, para acautelar eventuais riscos, garantindo a segurança de todos e do meio envolvente, e, por outro, para justificar eventuais adaptações ao projeto, mas também para medir possíveis deformações que possam ocorrer no maciço e nas estruturas intersetadas, no decorrer destas obras, nos vários dispositivos de instrumentação instalados ao longo do traçado, o que só será possível através de um acompanhamento contínuo com uma equipa especializada e experiente.