Será a água um recurso em abundância e inesgotável? [ Celina Rêgo ]
22 Março, 2022
22 Março, 2022
Não há assim tanto tempo que ouvíamos na escola primária que o oceano, e a água em si, era um recurso em abundância e inesgotável. Tal argumento não corresponde totalmente à verdade e, hoje, deparamo-nos precisamente com o contrário. Cerca de 97% da água que existe no nosso planeta é salina, menos de 3% é de muito difícil acesso e 0,014% é água doce com fácil acesso (sendo esta última percentagem aquela que conseguimos manipular).
Água potável e saneamento qualifica-se em sexto lugar na lista de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, da ONU, tendo a meta de “garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos até ao ano de 2030”. Desde 2015 que este objetivo foi aceite e aprovado por 193 estados-membros para cumprir as metas impostas do ODS 6. (https://globalcompact.pt/index.php/pt/agenda-2030)
A escassez deste recurso gera um impacto bastante elevado, como nos tem sido possível acompanhar nos últimos tempos, através das secas prolongadas, na falta de água nas barragens, na contaminação através da agricultura intensiva irrigada e, por último, mas não menos importante, nos padrões de consumo e de vida atuais.
As variações na demanda e na disponibilidade deste recurso geram grandes desigualdades em vários pontos do planeta, sendo da responsabilidade de todos a sua correta gestão, reciclagem e reutilização, para além da forma como esta é devolvida ao meio hídrico depois da sua utilização. A água potável, depois de utilizada para os mais diversos fins, torna-se água residual e é encaminhada para instalações de tratamento – um objetivo ainda por atingir em grande parte dos territórios, estando especificado como meta no âmbito do ODS.
Nestas instalações denominadas por ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais), os efluentes são submetidos aos mais variados processos de tratamento, criteriosamente selecionados de acordo com as caraterísticas poluentes presentes nestas águas, bem como tendo em conta as caraterísticas do meio hídrico em que vão ser descarregas e com o grau de depuração a atingir, ou seja, o grau de “despoluição” que se pretende aplicar nas mesmas.
Atualmente, e com o avanço das tecnologias de investigação, com o investimento que tem sido criado, bem como as estratégias criadas pela conceção de Economia Circular, algumas ETAR foram renomeadas, passando a ter um novo nome e um novo conceito: Fábricas de Água. Aqui, não só o efluente tratado é descarregado no meio hídrico após o seu tratamento, como também é reaproveitado para outras vertentes, nomeadamente rega de espaços verdes, lavagens de ruas, limpeza de viaturas, entre outras atividades que não necessitam de uma utilização restrita de água potável.
Exemplo deste novo conceito é a Fábrica de Água de Frielas onde a reutilização da água tratada é feita pelos agricultores da zona da Várzea, especialmente em períodos onde a escassez de água potável se faz sentir. Já na Fábrica de Água de Alcântara, pretendem desenvolver um corredor verde para implementarem lavagens de ruas nas zonas do Bairro Alto, Cais do Sodré e Terreiro do Paço, recorrendo apenas a água tratada.
Economicamente, verifica-se cada vez mais que estas “pequenas” alterações diminuem consideravelmente o custo associado por m3, sendo atualmente essa a estratégia para os tratamentos de águas e de efluentes: diminuição do seu custo de produção e tratamento. Nesta vertente, onde cada vez mais a diferenciação desempenha um fator de destaque, a AmbiÁgua posiciona-se como uma das empresas nacionais que desenvolve e constrói soluções (através de know-how interno) para implementação deste tipo de sistemas, que visam não só a recuperação de recursos hídricos, mas também a sua reutilização, sendo ainda capaz de gerar riqueza através da otimização de soluções de tratamento de águas.
Para assinalar o Dia Mundial da Água, o LNEC vai debater a sua reutilização no próximo dia 22 de março.
Conteúdo redigido por Celina Alves Rêgo, Engenheira do Ambiente (TPO e Projetista) na AmbiÁgua.